o desconexo

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7.3.14

the vitruvian stamp

O recente número da Trans Magazin - a revista de arquitectura da ETHZ - explora o tema da "Norma". Dentro deste problema, algures na página vinte-e-seis, podem ler um texto/intervenção que escrevi sobre a norma mais tirânica da arquitectura. O texto legenda um objecto que acabou por se apelidar "The Vitruvian Stamp". Para lá da forma e do conteúdo, a componente metodológica deste projeto consistiu em carimbar os mil exemplares da revista - uma operação curto-circuito algures entre impressão mecanizada da revista e o tema que a dirige.

Mais sobre a publicação aqui: http://trans.ethz.ch/en


Foto II: Janina Fluckiger




23.2.14

Hondelatte e Artiguebieille na San Rocco

No oitavo número da revista de arquitectura San Rocco, "What's wrong with the primitive hut?", podem ler um artigo que escrevi a quatro mãos com T. Auffret-Postel, sobre uma casa pensada pelo arquitecto francês Jacques Hondelatte (1942-1002).
A casa Artiguebieille, construída em 1973, é um volume de 27 metros de comprimento, 4 metros de largura e 6 de altura. Muito por culpa do seu autor que sempre hesitou em publicá-lo, este projeto viveu até hoje esquecido e desconhecido para muitos. Com alguma certeza, e ao contrário de Hondelatte, posso dizer-vos que se trata um trabalho seminal no percurso do arquitecto francês e que merece muito mais do que dois olhos de atenção.



Photo: Claude Artiguebielle e Agence Duprat-Fagart-Hondelatte

29.12.13

entre conter e ser

Em várias alturas cultivei um fascínio esquisito por trompe-l'oeil ao mesmo tempo que descobria o aborrecimento nos desenhos de M. Escher. Era uma espécie de alegre naiveté ao reconhecer o esforço que ali estava em criar a ilusão, uma qualquer-coisa que não o é. Essa minha admiração era intermitente. Num vai e vem, também as imagens ora se escondiam nos bastidores, ora voltavam ao palco, muitas vezes em partidas inesperadas engendradas por uma mistura de memória e raciocínio. (É, de novo, aquela história das imagens que nos perseguem que um dia escrevi aqui.)
Os trompe-l'oeil são um confronto e um desconforto entre o que sabemos e o que vemos, um golpe de magia debutante se não lhe faltasse a essencial dinâmica. Como num jogo, conhecemos o que vemos mas não é o que sabemos. Os trompe-l'oeil são uma espécie de elogio que a superfície plana faz à escultura. São os ímpetos da puberdade do 2D em versão Terra do Nunca. E às vezes até são boas partidas, como a que Francesco Borromini (1599-1667) se divertiu a fazer em três dimensões, a Galeria Spada. Um trabalho menor para os entendidos, mas verdadeiro isco para turistas.
Galleria Spada, 1652-3
A ilusão em que F.Borromini transforma 8,60 metros em quase 36.

A este propósito há um subtil quase-trompe-l'oeil num desenho de um dos projetos dos Office. (Para o leitor mais distraído, os Office são um atelier ao qual interessa estar atento. Ainda que não se trate neste texto a qualidade do que constroem, há que reconhecer a pontada de ar fresco e 'revival' quanto baste no modo como Kersten Geers e David Severen representam a arquitectura que pensam.)
No projeto para um edifício de apartamentos em Genebra, os Office KGDVS desenharam uma planta, em forma de losango, que parece uma axonometria e uma perspectiva que tenta rasteirar o olho treinado. Como é apanágio no que produzem, manipulam os mecanismos da perspectiva, aplanam o efeito de profundidade do solo, ao mesmo tempo que dramatizam a cobertura e o pátio através do contraste monocromático com a superfície que representa o céu. Na dualidade figura-fundo, o céu é representado em tons de branco, os mesmo tons que dominam o construído, aí a rasteira.
Office KGDVS, Complexo de apartamentos em Genebra, 2010

Revivi uma situação familiar ao cruzar um desenho de Bruno Taut (1880-1938) no livro Fruhlicht 1920-1922. Num projeto para um mercado em Magdeburg, o desenho de Taut espanta e intriga. É um convite ao equívoco porque a anormal normalidade proporciona uma dupla leitura de elevação/perspectiva. Com o auxílio de um outro desenho, descobre-se que a culpa é afinal de uma sequência de volumes de duas águas sobrepostos e de alturas diferentes.
Talvez seja prematuro montar uma 'teoria' a partir de intuições, mas se tivesse que o fazer, diria que há uma diferença entre "conter" a ilusão e "ser" a ilusão. Sendo certo que é a segunda que me interessa.

Bruno Taut, Viehmarkthalle, Magdeburg (n.d.)




21.12.13

um contributo

Estava para começar este texto a tricotar ideias sobre as escolas de arquitectura e os privilégios dessas incubadoras de projecto, apenas e só(!) para vos falar de um contributo discreto mas muitíssimo bem cultivado que cresce na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Munique, TUM para os amigos.
Bruno Krucker (von Ballmoos Krucker Architekten) e Stephen Bates (Sergison Bates Architects) são os titulares do Studio Krucker Bates, uma disciplina de projeto engajada nos temas da cidade e da habitação, cimentada no equilíbrio entre o exercício-de-projeto e a investigação.
O Studio Krucker Bates publica anualmente os Building Register, título genérico de um programa de investigação cujo objecto de estudo são edifícios de habitação de relevância histórica no tema da habitação. Os Building Register não são mais do que fascículos de recenseamento de obras de referencia, e dito assim parece pouco, não fossem feitas com uma dedicação e cuidado que se vê, e que as coloca entre as mais bonitas publicações sobre arquitectura que lembro.
Num papel mate e amável ao toque, o texto descritivo do projeto é factual e aparece arrumado nas primeiras páginas. Dando a César o que é de César, seguem-se conjuntos de desenhos técnicos extremamente educados, que calcam as escalas certas no momento certo, como se fosse possível transformar um recenseamento em narrativa. O todo é ilustrado com fotografias de um realismo seco e eficiente porque num objecto assim o acaso tem pouca margem. As capas, preenchidas de texturas autocad, escondem ainda uma impressão grande formato do objecto investigado.
Sem serem espetaculares ou especulativos, sem serem temáticos ou em formato de revista-tão-na-moda, os Building Register são sérios candidatos à categoria da intemporalidade. São um testemunho do compromisso vitruviano - prática e a teoria - sendo que o ratiocinatio não precisa de ser escrito, mas, neste caso, basta ser bem desenhado. Um contributo obrigatório a ter em cada biblioteca de arquitectura.

Obras publicadas:
Borstei housingLes BleuetsRobin Hood Gardens, The English Terraced House, Fuggerei, Beguinage Kortrijk, Hardwick HallHornbaekhus, Parc Plein Soleil. 





9.11.13

topofilia (eventually everything connects)

Duas das páginas mais bonitas do Espèces d'Espaces (1974) de Geoges Perec

A Joelho, a revista de cultura arquitectónica do departamento de Arquitectura da UC, publicou um artigo onde falo de uma experiência de ensino de projeto. Chama-se "Topofilia". O texto não é mais do que uma deambulação à volta dessa experiência e uma vontade de confronto com outras dimensões propícias ao diálogo. No mesmo número da Joelho encontram as outras participações no colóquio "Ensinar pelo Projeto". Para abrir o apetite aqui fica o 'teaser':
Topofilia
"No livro La poétique de l'espace, o filósofo francês Gaston Bachelard fala da problemática da imagem como un produit direct du coeur, de l'âme, de l'être et de l'homme. Bachelard evoca a imagem poética como aquela que se enraíza em nós e desencadeia a reflexão. Partilhando este conceito bachelardiano, o exercício de projecto apresentado aos alunos tratou a imagem como catalisador e motor de aprendizagem.
Intencionalmente sem fornecer um programa, um lugar ou um contexto de intervenção, a proposta desafiou o aluno a produzir um projecto de arquitectura à semelhança de uma construção cinematográfica. Através de processos de adição, corte e colagem, transformação e deformação, o aluno analisou dispositivos espaciais e com eles construiu uma narrativa. Para além de se ter apresentado como uma abordagem alternativa ao exercício de projecto "convencional", este trabalho permitiu abandonar um estabelecido savoir-faire para gerar diferentes formas de aprendizagem e concepção da arquitectura a partir do seu interior. Ilustra-se aqui uma possibilidade de “ensinar pelo projecto” através de processos de inversão que permitem oferecer ao aluno outros mecanismos de investigação espacial."
English abstract
Topophilie - A pedagogical experiment
This paper has its origins in my experience as a teaching assistant for Anne Lacaton and Jean-Philippe Vassal's Design Studio. Lacaton and Vassal were visiting professors at École Polytechnique et Fédérale de Lausanne in 2010-2011.
In his book La Poétique de l’Espace, the French philosopher Gaston Bachelard speaks of the image as un produit direct du coeur, de l’âme et de l’homme, a product of the heart, of love, and of Man. The author evokes the poetic image as one that is rooted in us and triggers our imagination. With this idea of the poetic image in mind, the design studio proposed an exercise to the students using image as catalyst and as a motor for learning.
Intentionally without providing a programme, a site, or a context to intervene, the exercise challenged the student to produce an architectural design like a cinematic construction. Through processes of addition, cutting and pasting, transformation and deformation, students analysed spacial configurations and were invited to build a narrative. Besides being an alternative approach to the “standard” Design Studio exercise, this work allowed the student to put away an established savoir-faire in order to generate different forms of conceiving architecture within its interior space. Through systematic processes of inversion, the exercise provoked new mechanisms of conceiving architectural space, and offered a different possibility of “learning through design”.

31.10.13

radical colomina

Esquema  de conteúdo/tempo da palestra de Beatriz Colomina "Towards a Radical Pedagogy" 29.10.2013
Apercebi-me que se quisesse começar este texto debaixo do guarda-chuva da honestidade só teria de escrever duas notas: a primeira para apresentar o contexto e a segunda para resumir um estado de espírito:

Ontem, Beatriz Colomina, um nome de peso da investigação em arquitectura ocidental, apresentou uma dissertação sobre pedagogias radicais no ensino da disciplina a um auditório meio vazio. Entre os mornos aplausos que selaram o fim da conferência, Colomina parecia feliz e eu desapontado.

Como bon élève costumo seguir a Colomina na www, por isso, em espírito de concerto-ao-vivo esperava ouvir pelo menos alguns b-sides. No palco, quem tanto escreveu sobre o assunto, esqueceu-se que a arquitectura também é um tema pilhado pelo excesso de informação em linha, e a palestra soou por momentos a playback.
"Towards a Radical Pedagogy" foi a proposta da conferência e é o nome do mais 'recente' projeto do Program for Media+Modernity que Colomina dirige em Princeton e que veio apresentar. Em palavras suas: é uma investigação "on going and multiyear".
Colomina, num golpe de marketing e boa fé, começou com uma boa meia hora do seu trabalho passado, em formato best of, desde o Clip/Stamp/Fold e as Little Magazines, Cold war Hot Houses, Learning from Levittown, até ao glamoroso Architecture in Playboy. Tudo isto a uma velocidade de um slide e meio por segundo, pontuado por dezenas de fotografias documentais dos produtos de cada um dos projectos. A par do notável e fatigante dinamismo, Colomina esforçava-se em sublinhar a ideia de colaboração a favor da tríade Investigar-Produzir-Expor. Sem nunca se socorrer de vocábulos do universo da curadoria, fez desfilar muitas fotografias das suas exposições em outros tantos lugares, sempre com personagens de peso da sua entourage, da história recente da arquitectura. Falava do 'como' - como montámos a exposição, o que fizemos na exposição, o que publicámos depois da exposição - atropelando muitas vezes o 'porquê'. Se por esta altura fervilhava no auditório a inquietação dos que queriam ouvir falar de "Radical Pedagogy", Colomina insistia que só é possível comunicar produzindo objectos de comunicação: "learn from communication with communication".
De regresso ao slide de abertura, restringindo a escolha aos anos 60 e 70, Colomina nomeou os casos de estudo, sendo que cada um deles foi cuidadosamente dissecado por investigadores do seu programa. Contavam-se vinte e oito case-studies: dezoito nas Américas (a maioria no sul), nove indicados na Europa e um na Ásia (mas com os dedos londrinos dos Smithsons). Para Colomina, a chave para identificar estas pedagogias radicais passou (e passa) por reconhecer que são um tipo de produção de arquitectura "in their own right", ou seja, foram encaradas como novas formas de expressão, que na altura, surgiram acompanhadas por novos modelos de comunicação e em evidente embate com as instituições onde se geraram. Quando Colomina começou a concretizar a forma como o seu grupo de trabalho começou a 'arrumar' o multiformalismo destas experiências, esgotou-se o tempo de antena e morreu na praia o que devia ter sido o centro da palestra. Comum aos case-studies de Radical Pedagogy esteve a vontade de desafiar um pensamento normativo(1) e - como sublinhou Colomina - o que naquele período era avant-garde, ou se dissolveu no ar, ou foi assimilado pelo main-stream, porque "one cannot be radical forever" (+).


(1) Sem que tenha abordado a questão, suspeito que há uma indício a considerar entre a implementação de programas de PhD e o atenuar das so-called pedagogias radicais. 
Da coincidência ou da sincronização dos tempos, o dArq publica amanha a Joelho #4, uma versão-papel do seminário "Ensinar pelo projeto/Teaching Through Design" onde pude falar das aventuras do atelier de projeto Lacaton&Vassal na EPFL.

10.10.13

desenhos perseguidores

Tenho desenhos que me perseguem. Chamo-lhes desenhos perseguidores.
Quando se juntam-se em número suficiente, organizam - sozinhos - noites de vigília. Alguns são autênticas marteladas nos olhos; marteladas bem dadas se imprimiram no interior do crânio - talvez seja por causa disso que o que o meu osso parietal me lembra tanto Lascaux.
Os meus desenhos perseguidores deixam marcas que podiam correr de perto com os melhores trabalhos do Nannetti. Esqueçam Lascaux. O meu osso parietal é uma obra do Nanetti. Tenho outros, lavrados a escopro, em cantos difíceis de chegar, que só os vejo ao espelho porque deixaram socalcos na minha cabeça careca.
Quando temos um, dois, mil desses desenhos perseguidores gravados na cabeça, até o que se ouve, soa diferente. O eco é uma nova história.
Quando se distraem, os desenhos perseguidores passam a ser perseguidos, e a vigília passa a chamar-se insónia.


A Louise Bourgeois chamou a este Femme-maison. Encontrei-o nas páginas de uma AA dos anos 80. O original é assim e já o tínhamos visto numa versão "cover" de uma Joelho que passou por aqui há uns meses atrás.

30.9.13

hesitação (e la grande bellezza)

Algures, perto do fim do filme:
"Não quer saber porque que é que me alimento de raízes? (...)
Porque as raízes são importantes."

Se eu soubesse escrever crítica de cinema, escrevia aqui um texto à altura do filme La Grande Bellezza do italiano Paolo Sorrentino. Não precisava de muitas linhas. Se eu soubesse, escreveria apenas o desnecessário, tudo o que vi nas entrelinhas. Um texto que falasse dos excessos e das lacunas dos excessos, da luz e das luzes, da ausência do diálogo e dos abundantes monólogos.
La Grande Bellezza é um filme sobre muita coisa, a tropeçar na demasia; e sobre nada, sobre o nada que são os personagens do filme e sobre o nada que Jep Gambardella sabe que existe. É um filme sobre rostos e rostos de muitas caras. É um filme com falas que dariam poemas ou dissertações de fim de vida de tão vazias que são. Deslumbra sem arrebatar.
Se eu soubesse escrever crítica de cinema, escrevia um texto mais inteligente, com uma ponta de sentido e menos abstracções. Não sei como o fazer, ainda assim, simplista e imprudente seria reduzir a estrelas a grande beleza.


13.9.13

Marshall Berman morreu

"If our years of study have taught us anything, we should be able to reach out further, to look and listen more closely, to see and feel beneath surfaces, to make comparisons over a wider range of space and time, to grasp hidden patterns and forces and connections, in order to show people who look and speak and think and feel differently from each other—who are oblivious to each other, or fearful of each other—that they have more in common than they think."

Marshall Berman aqui (via versobooks)

3.9.13

um piscar de olhos ao Zumthor


Dominikus Boehm, Neu Ulm (1926)
foto: d_teil (flickr)

21.6.13

collage


John Strachan, Claypotts Castle, Dundee, Scotland, 1569-1588

Edouard François, Collage urbain, Champigny-sur-Marne, (2006) 2008-2012  © Paul Raftery

13.5.13

ferdinand hodler

Hodler a tocar tambor (1910) Fotografia de Gertrud Mueller
Ferdinand Hodler foi um pintor suíço do século XIX e é a melhor desculpa que encontro para convencer o leitor a ir até Basileia, mais precisamente até à Fundação Beyeler. E isto pouco importa onde estiver neste preciso momento.

Hodler viveu entre 1853 e 1918, e a exposição criteriosa da Fundação Beyeler escolheu apenas trabalhos dos últimos 5 anos da sua vida. Um 'ensemble' tardio e com uma força de conjunto muitíssimo forte, tanto pelas obras como pela 'mise-en-scène' dos curadores. Basta cruzar as duas ou três primeiras salas para perceber que ali está muito trabalho, principalmente na luz. Sim, uma luz bem domesticada; penso na iluminação artificial da sala onde se expõe a morte de Valentine Godé-Darel e penso ainda na luz natural daquele dia cinzento, onde os envidraçados do Renzo Piano insistiram em lembrar-me onde estava.

Estão expostos alguns auto-retratos de um homem que não se pintava mal, elegante e de rosto centrado na tela, aparece sempre carregado de carácter. Em alguns auto-retratos julgo mesmo ter visto montanhas de rosto em vez de maçãs. As paisagens dominam em grande número e estão lá para nos demorarmos como se aquilo tudo viesse de um sonho. Por ali ficamos a vadiar nas pinceladas. O olho agarra-se com mais facilidade às paisagens onde a proporção das montanhas é descarada e descabida, e onde céu não ocupa mais do que um sexto da tela. Mais à frente, a surpresa vem da sala onde se mostram as mortes de Valentine, em fase terminal, admirável e cadavérica, também ela pintada como uma paisagem. Muito estruturada em grandes gestos horizontais assim é a morte.

De volta às paisagens, lembro-me que uma das coisas mais bonitas, para quem como eu todos os dias, olha fascinado para o lago Leman, é a mestria que Hodler teimosamente pintou repetidamente a mesma paisagem, no mesmo dia ou em dias diferentes, com o vigor único de quem persegue qualquer coisa que já lá não está à segunda pincelada.

(Para os olhos aqui)

27.4.13

dizeres de arquitectos II

"L'architecture est un sport de combat"
(com direito a livro por Les Éditions Textuel)


25.3.13

dizeres de arquitectos I


"Être minimaliste (...) c'est un complot contre l'aventure."
R. Ricciotti

23.3.13

persistências da portugalidade

Adolf Hoffmeister, colagem

Depois de uma paragem na página quarenta, e um regresso à casa de partida, estou a ler O Verão de 2012 com um entusiasmo que sinto estar carregado de carinho por uma das pessoas da minha vida. Hoje não me demoro aqui em considerações rasgadas de elogios e lágrimas por duas razões: primeira, não estou preparado para isso, segunda, são partilhas difíceis de (d)escrever talvez por estarem tão sedimentadas na juventude, entre conversas fugidias e serões mais demorados com o T., a R., a B. e os livros. Dizia eu que li com espanto as considerações compiladas sobre os portugueses como bichos de casa, copio e colo:
"Heinrich Friedrich Link, alemão, afirmou mais ou menos o mesmo:"Não dão passeios nem se sai para passear (...) mesmo o belo rio está desaproveitado." (...) Joseph-Barthélemy-François Carrère, francês, foi mais brusco: "Os portugueses não passeiam e as portuguesas ainda menos."
Coisas escritas nos séculos XVIII e XIX, que me lembraram o que senti quando cheguei há cinco anos à Suíça. Encontrei pessoas nas ruas. Tantas que me faziam lembrar a Visconde da Luz e a rua Ferreira Borges há vinte anos atrás, tinha eu dez; isto antes dos centros comerciais terem cilindrado a vida ao ar livre e anulado as diferenças entre a manhã, a tarde, e a noite; entre o fresco, o frio, o ameno e o quente.
Aqui as pessoas (ainda) saem à rua. No princípio, pensei que a culpa fosse dos horários, rígidos e criteriosos, das oito e meia às dezanove, sábados das nove às dezoito e tudo fechado nos dias do Senhor e outros feriados menos religiosos. Mas enganei-me porque, mesmo durante esses horários, há gente na rua, há vida à beira do lago, há passeios e caminhadas na montanha. Uma vida que, para mim, Coimbra já tinha perdido e que, no caso da relação com a água, nunca soube criar. Pensei ingenuamente durante este tempo que a culpa fosse, de facto, dos gigantes de bétão, gesso-cartonado e neons, mas no século XVIII ainda não existiam, e como nos fala o Verão, já o português era um bicho que não gostava de sair à rua.


Nota 'Se' número 1:
Se eu fosse sociólogo podia investir aqui nas questões da "inscrição" de José Gil em relação à expressão "país de silêncio" da página setenta de O Verão de 2012. Ainda que não o faça, os meus botões acham que há qualquer coisa triste no adn da portugalidade.)

Nota 'Se' número 2:
Se eu fosse curator, encomendava um centro comercial ao ar livre. Propor um, a céu aberto, sem telhados, era fácil. Fácil demais. Mas o que se queria mesmo, era um centro comercial carregado de tecnologia, maquinas automáticas e condutas, circuitos e óleo - uma "caverna" - onde o dia e a noite, o frio e o quente, fossem obras do Olafur Eliasson, instaladas nos quatros cantos do buraco. As lojas expunham as colecções e as tendências todas em simultâneo. Todos tinham de entrar com t-shirt e casaco polar, chapéu de chuva e óculos de sol.

24.2.13

super

Rene Magritte, Hengel's Holiday, 1958

Jorge Figueira escreveu um texto que intitulou de "O Professor Clark Kent" na sua crónica quinzenal no jornal Público. Jacques Derrida escreveu, não sei dizer onde, "What cannot be said above all must not be silenced but written". Eu queria escrever sobre isto tudo.

(Saudações aos que ainda abrem esta janela apesar do frio que está.)


6.1.13

uma resposta


Uma resposta para o Diogo

"In the same sense speech matters more than writing, because speech precedes writing, and because writing is but a special case of speech." George Kubler, 1962

G. Kubler. The Shape of Time - Remarks on the History of Things. London: Yale University Press, 2008

28.11.12

ausências prolongadas

Se não ando a escrever aqui, é porque andei a escrever para outro lado.
Deve sair lá para o ano.

10.11.12

cpam

...das coincidências e da sincronização dos tempos.



22.9.12

ensinar pelo projeto

Caros leitores,
o Departamento de Arquitectura (dARQ) da Universidade de Coimbra está a organizar um colóquio sobre o ensino do projecto de arquitectura. Tudo acontecerá entre o dia vinte e sete e o vinte e nove de setembro em Coimbra. Há temas e sessões, há mesas redondas e uma lista de key-note speakers* para seguir.
Se tudo (me) correr bem eu passarei por lá na sessão da manhã de sexta-feira onde vou falar sobre algumas coisas que me interessam. Até breve.

Para saber mais basta abrir esta janela aqui.

*Alexandre Alves Costa, Juan Domingos Santos, Florian Beigel, Philip Christou, Willemij Wilms Floet, Elizabeth Hatz, David Leatherbarrow, Andrew Clancy.

10.9.12

gossip

Às vezes a ideologia e a arquitectura vão para a cama.

9.9.12

sobre a ligeireza dos assuntos

H.B.Burt "Process of making frozen confections" Patente n.1470524 (1923)

No que diz respeito a gelados, confesso que evito a bola de gelado em copo de papel com colher de plástico. Como se entende, se dois é bom, três é uma multidão.
Nos meus melhores dias minimalistas, prefiro o corneto. Suporte e conteúdo em forma de cone. Não é extraordinário, mas nada se perde, tudo se consome. É um gelado de método. Tem um percurso. Tem um princípio, um meio e um fim. E é um facto que o bom corneto se distingue no fim, ou seja, pela qualidade do chocolate de leite que ocupa a extremidade do cone. A esse último bocado cabe a responsabilidade de coroar os 10 minutos da infantil felicidade de comer um gelado.

Em dias de maior excentricidade sou capaz de procurar super-maxi, um clássico e também o mais conhecido representante dos chamados "gelados de pau". Uma massa uniforme de nata, coberta com uma fina camada de chocolate de leite, solidificada em torno de uma fina tala de madeira. Simples, mas ainda assim, o super-maxi pertence à família dos gelados compostos. Dois elementos em vez de um. O suporte de madeira permite segurar no gelado enquanto nos entretemos. Tradicionalmente começa-se por cima e quando se dá conta estamos perto de concluir a missão. No entanto é aqui que reside o maior problema com os ditos gelados de pau. A perícia do comedor está em saber distinguir qual deve ser o último sorvo. O risco é aqui proporcional à ousadia. Quando a gula é grande, condena-se a satisfação. Não há nada pior do que ficar com o sabor da madeira quando se termina um super-maxi. O que podería ter sido uma boa recordação fica reduzida ao erro de termos ido longe demais.

Em arquitectura é igual. Prova-se uma obra e pela força de tudo querer ver, o detalhe inexplicável enche-nos o olhar com o "sabor da madeira". Nada mais há a fazer. Saímos tristes, com esse gosto entalado no palato da memória, e não pensamos noutra coisa.

29.8.12

Werk Bauen und Wohnen 7|8 Porto

O índice do numero da WBW dedicado ao Porto:
Nuno Grande "Der historisch Kurzschuss"
Tiago Borges "Szenen des Wohnens"
Eine Methode, kein Stil Alvaro Siza Vieira und Eduardo Souto de Moura im Gesprach mit Nuno Grande und Anne Wermeille Mendonça
André Tavares "Air Porto"
João Pedro Serôdio "Die Bedeutung der Landschaft"

E aqui o preview do meu artigo: